Acreação
"Avançar as fronteiras do jornalismo para além dos limites convencionais que ele próprio se impõe" (Edvaldo Pereira Lima)
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Planejamento e adaptação
As coisas não costumam sair conforme o planejado. A saída é adaptar. Com essa breve reflexão eu declaro o início da reta final!
segunda-feira, 21 de maio de 2012
A ficha-resumo
No post anterior eu expliquei em linhas gerais a bibliografia de um
projeto e a importância da pesquisa em um livro reportagem. O exemplo de Truman
Capote e suas milhares de páginas lidas antes de iniciar A Sangue Frio demonstram a grandeza de certos projetos e
imediatamente despertam a pergunta: Como organizar tanta informação?
Mais uma vez, utilizei instrumentos
e metodologias de pesquisa para solucionar essa questão. Boa parte da pesquisa está
sendo feita a partir da leitura de livros e artigos. Tudo está documentado na
forma de uma ficha-resumo, feita com
a indicação de páginas e transcrição de passagens importantes que possam ser
aproveitadas em entrevistas ou referências de texto. Além disso, incluo
comentários pessoais, separo os personagens que julgo importantes, termos
desconhecidos, organizações e documentos. É como um trabalho de engenharia
reversa, com as informações consideradas importantes separadas por tópicos
específicos e de rápida referência. Para facilitar a visualização, vou
disponibilizar partes de uma das fichas como exemplo, neste caso o famoso
livro-reportagem de Zuenir Ventura:
Fichamento (trechos)
Anotações do livro
VENTURA, Zuenir. Chico Mendes: crime e castigo: quinze
anos depois, o autor volta ao Acre para concluir a mais premiada reportagem
sobre o herói dos povos da floresta. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
241p.
Personagens:
Adair Longuini: juiz de Xapuri na época do julgamento de Chico Mendes.
Adalberto Aragão: dono da fazenda Três Marias, ex-prefeito de Rio Branco pelo PMDB e um
dos fundadores da UDR no Acre.
Alvarino Alves Pereira: irmão de Darly, envolvido também no assassinato de
Chico e procurado pela polícia após o crime.
Élson Martins: importante jornalista acreano, fundador do jornal alternativo Varadouro, que existiu entre 1978 e 1981
e posteriormente diretor da TV Aldeia.
Euclides Fernando Távora: guerrilheiro fugitivo da Coluna Prestes,
alfabetizou Chico Mendes e foi seu grande mentor.
Eunice Feitosa: primeira mulher de Chico Mendes.
Livros e Documentos:
Se me deixam falar: escrito pela educadora brasileira Moema Viezzer, sobre a índia e líder
popular boliviana Domitila Barrios de Chungara.
Dez Dias que Abalaram o Mundo: relato de John Reed sobre os primeiros dias da
Revolução Russa de 1917.
Organizações citadas:
BIRD:
Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
BID: Banco
Interamericano de Desenvolvimento
Operação Chico Mendes: em busca dos responsáveis pela morte do
seringueiro, bem como o julgamento e todas as investigações necessárias.
Jornal Rio Branco: realizou a primeira reportagem após a morte do seringueiro, rodeado de
suspeitas sobre a velocidade em que o repórter se movimentou até o local do
crime (editor Júlio César Fialho, repórter Adonias Mato e fotógrafo Luís dos
Santos).
Projeto Seringueiro: o projeto de peso da região, que envolvia cooperativas e escolas
dentro da floresta para alfabetização dos seringueiros e posteriormente seus
filhos.
Resumo:
Parte I: O Crime
Capítulo 1
O tiro que foi ouvido no mundo todo
O primeiro capítulo descreve com detalhes o
assassinato de Chico Mendes, ocorrido no dia 22 de dezembro de 1988, baleado na porta de casa quando ia tomar
banho. Levanta as questões de como os seus seguranças estavam armados com
pistolas fracas, como os policiais na proximidade não realizaram busca alguma e
como Chico Mendes anunciava há tempos que estava marcado para morrer. Todos
relatam que ele sabia que não chegaria até o dia 30 de dezembro.
Capítulo 2
Como se criam pistoleiros (março /
abril, 1989)
Capítulo descreve a estranha história dos repórteres
do Jornal Rio Branco, que chegaram da capital do estado a Xapuri em poucas
horas, dirigindo um Volkswagen Gol branco. A estrada é péssima e exige um tempo
muito maior do que o levado para os jornalistas. Outro ponto de suspeita é que
testemunhas afirmam que o carro estava frio quando chegou.
A viagem do repórter Zuenir Ventura a Xapuri foi
feita em uma picape muito mais robusta e levou mais tempo do que o Gol dos
repórteres, justificando uma suspeita de que muitas pessoas da alta sociedade
sabiam do que ia acontecer.
Outros pontos abordados são a falta de estrutura
crônica da polícia para caçar os suspeitos, a falta de proteção a
testemunhas-chave no processo, como Genésio, o adolescente de 14 anos que vivia
na Fazenda Paraná e como no local eram realizados diversos crimes e
assassinatos, com visitas periódicas de pessoas de Rio Branco.
Capítulo 3
Uma gargalhada sem igual
Início do capítulo com alguns detalhes
do filme sobre Chico Mendes, tema que é recorrentemente abordado no livro e
parece ter sido de grande importância na época.
Passa para a questão do envolvimento
de figuras políticas importantes na morte de Chico Mendes, entre eles João
Branco, advogado de ruralistas e dono do Jornal Rio Branco. O episódio de
agressividade dos membros da UDN contra Fernando Gabeira no aeroporto de Rio
Branco. A UDN tentava enquadrar o assassinato do seringueiro como uma desavença
pessoal com um pistoleiro agressivo da região, removendo qualquer carga
ideológica que poderia haver por trás.
O maior problema na investigação da
morte de Chico Mendes não era a falta de
equipamentos para investigação, era a falta de vontade política. Foi um
assassinato peculiar, pois a vítima deixou muita informação a respeito dela
para a justiça.
Bibliografia destacada:
Mary
Helena Allegretti: O seringueiro: um
estudo de caso num seringal nativo do Acre.
Documentário A Década da Destruição de Adrian Caldwell.
A Selva Trágica: Roberto Farias (documentário)
Pra frente Brasil: Roberto Farias (documentário)
Termos Importantes:
Reservas Extrativistas: áreas pertencentes à União com usufruto dos
seringueiros, que se organizam em cooperativas e associações, não havendo
títulos de propriedade. As Reservas dão sustento aos milhares de famílias que
trabalham nelas e são uma forma de preservação da natureza.
RIMA:
Relatório de Impacto Ambiental
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Os primeiros contornos: bibliografia e pesquisa
Se
o livro-reportagem for comparado com uma obra de engenharia, a conclusão do
projeto é análoga à construção do alicerce. Isto posto, o próximo passo é
começar a cimentar as vigas principais, ou seja, começar a fase de pesquisa.
Um
importante tópico de qualquer projeto é a bibliografia. É onde se relacionam
todas as obras consultadas pelo(s) autor(es) que tenham proximidade com o tema.
Costuma ser também o ponto de partida para o aprofundamento no assunto e início
da pesquisa.
Não
existe reportagem sem pesquisa, por menor que seja. Autores consagrados
terceirizam parte dessa tarefa para ganhar tempo. Caco Barcellos é um exemplo.
Outros preferem assumir essa responsabilidade sozinhos. Ruy Castro afirma ler o
máximo possível sobre o tema e a partir daí procurar as pessoas envolvidas com
o projeto de seu livro. Truman Capote afirmou ter lido oito mil páginas de
documentos durante as investigações de A Sangue Frio, além de entrevistar dezenas de pessoas diversas vezes. A
edição brasileira atual tem 432 páginas, ou seja, para cada página que
escreveu, o autor leu vinte!
A
relação bibliográfica do nosso projeto é um ponto forte, caso seja devidamente
relacionada e incorporada na obra final, evidentemente. A viagem do Miguel para
o Acre em 2011 foi sem dúvida o maior diferencial. Ele teve a oportunidade de
freqüentar a Biblioteca Pública de Rio Branco, a Biblioteca da Floresta e de conversar
com dezenas de moradores, líderes locais e acadêmicos. O conhecimento de
aspectos históricos sobre o Acre e a Amazônia garante um entendimento mínimo
das dinâmicas sociais, políticas e econômicas locais.
A
nossa geração tem uma séria dificuldade de filtrar conteúdo. Temos tanta
informação disponível na Internet que fica difícil saber o que é importante e o
que não é. Por isso definir os parâmetros projeto antes é tão importante. Com
certa previsão de como o tema será abordado, fica mais fácil escolher que
caminho percorrer. A confusão durante o processo de produção de uma grande
reportagem vem muitas vezes do excesso de informação.
As
obras históricas dificilmente podem ficar de fora. Em um livro-reportagem os
autores podem e devem utilizar obras teóricas amplas que ajudem na
interpretação de determinados conceitos. Isso não é muito comum no jornalismo
tradicional, que preza pelo profissional genérico e notícias objetivas
fabricadas em velocidade industrial.
Para
esclarecer o assunto segue a nossa bibliografia formatada. Ela pode servir de
referência e está de acordo com as regras da ABNT:
Bibliografia [trecho retirado do projeto]
BENCHIMOL,
Samuel. Amazônia: um pouco-antes e além-depois. Editora Umberto Calderaro.
Manaus – AM, 1977.
CALDAS,
Sérgio Túlio. A caminho do Oeste – do Brasil ao Pacífico sobre rodas. DBA Artes
Gráficas, São Paulo – SP, 2002.
CASTRO,
Genesco de. O Estado Independente do Acre e J. Plácido de Castro: excerptos
históricos. Edição comemorativa ao centenário da Revolução Acreana (1902-2002).
Senado Federal, Brasília – DF, 2002.
CHAROUX,
Ofélia M.G. Metodologia: Processo de produção, registro e relato do
conhecimento. Dvs Editora, São Paulo – SP, 2006.
CARRASCO,
Lorenzo. Máfia Verde: o ambientalismo a serviço do governo mundial.. Editora
EIR, Rio de Janeiro – RJ, 2001.
DIOGO
DE MELO, Mário. Do sertão cearense às barrancas do Acre. Edição 5ª. Editora
Preview. Rio Branco – AC, 2008.
FALCÃO,
Emílio. Álbum do Rio Acre 1906-1907. Reedição. Fundação Cultural do Acre, Rio
Branco – AC, 1985.
FERREIRA
DE SOUZA, Raimundo. Arigó. Scortecci Editora. São Paulo – SP, 2004.
FORTES,
Luiz Roberto Salinas. O bom selvagem. Editora FDT, São Paulo-SP, 1989.
GINZBURG,
Carlo. O queijo e os vermes. Companhia das Letras. São Paulo – SP, 1987.
HOBBES,
Thomas. O leviatã. Abril Cultural, São Paulo-SP, 1984.
MARCHESE,
Daniela. Eu entro pela perna direita. Editora Edufac. Rio Branco – AC, 2005.
MARTINELLO,
Sílvio. Corações de borracha. Editora Printac, Rio Branco – AC, 2004.
MARTINS,
Edílson. Chico Mendes: um povo da floresta. Editora Garamond, Rio de Janeiro –
RJ, 1998.
MEIRA,
Augusto. Autonomia acreana. Tipografia da Livraria Escolar. Belém – PA, 1913.
MELO,
Hélio. 1ª cartilha popular: Os mistérios da caça “Do seringueiro para o
seringueiro”. Fundação Cultural do Acre. Rio Branco – AC, 1985.
MELO,
Hélio. 2ª cartilha popular: As experiências do caçador “Do seringueiro para o
seringueiro”. Fundação Cultural do Acre. Rio Branco – AC, 1985.
MELO,
Hélio. O caucho, a seringueira e seus mistérios. Fundação Nacional pró memória,
Brasília – DF, 1984.
MIGUEIS
PASSOS, Raimunda. Crendices consideradas, também, acreanas. Shogun Editora e
Arte LTDA. Rio Branco – AC, 1987.
MORUS,
Thomas. A utopia. Ediouro, Rio de Janeiro-RJ, 1997.
RICUPERO,
Rubens. Rio Branco: O Brasil no mundo. Contraponto, Rio de Janeiro – RJ, 2000.
RODRIGUES,
Gomercindo. Caminhando na floresta. Edufac, Rio Branco - Acre, 2009.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social. Abril Cultural, São Paulo-SP, 1983.
ROUSSEAU,
Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os
homens. Abril Cultural, São Paulo-SP, 1983.
SCHMINK,
Marianne; LIMA CORDEIRO, Mâncio. Rio Branco: A cidade da Florestania. Editora
Universitária UFPA. Belém – PA, 2008.
SOUZA,
Márcio. Galvez: Imperador do Acre. Edição 9ª. Civilização brasileira, Rio de
Janeiro – RJ, 1981.
TOCANTINS,
Leandro. Formação histórica do Acre volume 1. Edição 4ª. Senado Federal,
Conselho Editorial, Brasília – DF, 2001.
TOCANTINS,
Leandro. Formação histórica do Acre volume 2. Edição 4ª. Senado Federal,
Conselho Editorial, Brasília – DF, 2001.
VEIGA,
José Eli da. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Editora
Garamond. Rio de Janeiro – RJ, 2005.
VENTURA,
Zuenir. Chico Mendes: crime e castigo. Companhia das Letras, São Paulo – SP,
2003.
*
Para a elaboração desse post foram
utilizadas referências de BELO, Eduardo. Livro-reportagem.
São Paulo: Contexto, 2006. 139 p.
A História Sóciopolítica Universal do Acre (elaboração de um projeto)
Após
decidir o tema, o passo seguinte é elaborar o projeto de pesquisa e o seu
plano. Essa etapa é importante, independente da situação: por obrigações
acadêmicas, comerciais ou pela necessidade de organizar as idéias e estabelecer
os parâmetros do trabalho.
Mas o que é um projeto? Uma das definições mais famosas
é a do Project Management Institute (PMI):
Projeto
é um empenho assumido, temporário, para obter-se um resultado único [...].
Temporário significa que esse resultado tem um início e fim definidos. Único
significa que o resultado é diferente, sob alguns aspectos, de outros similares.
O roteiro de elaboração de um
projeto varia bastante de instituição para instituição, ou de acordo com os
objetivos do autor. É importante ter em mente que ele é um guia, não um
documento hermético ou mapa do tesouro. Deve ser compreensivo e direto. Isso
exige a realização de uma pesquisa prévia sobre o tema, além da organização dos
conceitos e da questão que será abordada. Existem inúmeros livros que detalham
passo-a-passo o processo de elaboração de um projeto. Utilizamos o Metodologia:
processo de produção, registro e relato do conhecimento, de Ofélia M. G. Charoux. DVS Editora,
2006.
Como prometido no último post, seguem partes do nosso projeto de
pesquisa com alguns comentários:
Título [retirado do
projeto]
A HISTÓRIA SÓCIOPOLÍTICA DO ACRE E DE SEUS HABITANTES
BASEADA NO MITO DA FIGURA DE CHICO MENDES: UMA ABORDAGEM MICROHISTÓRICA
REGIONAL E GLOBALIZADA, PERSPECTIVAS DE UM FUTURO SUSTENTÁVEL.
Comentário: O título não precisa ser, necessariamente, idêntico à
formulação do tema, mas sugeri-lo. Ele aponta sobre o que trata o trabalho. Deve ser breve e dar a entender qual tema
será abordado. Percebe-se que o nosso título ficou amplo e com tema difuso. É
muito difícil contar a história sócio-política do Acre e de seus habitantes em
um livro-reportagem. A primeira consideração do revisor foi modificá-lo e
delimitar o tema proposto.
Introdução [trecho retirado do projeto]
No cenário global turbulento da segunda década do
terceiro milênio, a população mundial assiste atônita aos desafios políticos e
econômicos desprendidos pelos países desenvolvidos para superar suas dívidas
astronômicas.
Paradigmas
econômicos até pouco tempo considerados inabaláveis entraram na pauta das
instituições de crédito, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco
Mundial. A situação aprofunda a falta de confiança dos investidores nos países
desenvolvidos e deposita as esperanças nos “países emergentes”, entre eles o
Brasil. [...]
O Estado do Acre é um pedaço
desconhecido do país para a maioria dos brasileiros, principalmente para
aqueles que vivem nas regiões sul e sudeste, as mais ricas e influentes. Sua
história foi constantemente influenciada por interesses econômicos nacionais e
internacionais, antigamente os conhecidos “ciclos da borracha” e atualmente a
abertura de um canal rodoviário para o Oceano Pacífico. Ocupações desordenadas,
intercaladas por momentos de ostracismo, deixaram profundas cicatrizes em sua
população, especialmente na sua figura mais conhecida, o seringueiro.
O
seringueiro é o ícone do Acre e sua figura representa uma parte importante da
dinâmica do Estado. Sem dúvida, o seringueiro mais famoso foi Chico Mendes,
cujos ideais de luta contra a exploração predatória e desigualdade social
continuam atuais, quase vinte e cinco anos após a sua morte. O discurso
político e ambiental relacionado ao modo de vida do seringueiro deu
visibilidade mundial para uma região que o próprio país insiste em não
enxergar. Os “povos da floresta”, aqueles que dependem da preservação da
floresta amazônica para extrair o seu sustento, foram transformados em um mito
cuja apropriação política serviu para atender aos mais diversos interesses,
muitas vezes afastados daqueles originalmente levantados.
A
tarefa de esmiuçar o mito dos “povos da floresta” e relacionar os interesses
políticos e econômicos vigentes no Acre e na Amazônia a partir de uma visão
globalizada nunca foi mais atual. A história de luta de sua população
tradicional, os atuais projetos do Estado e de suas pequenas experiências
cotidianas são alicerces que servem de ponto de partida para uma profunda
análise filosófica, política e econômica, que deve enriquecer a pauta mais
importante e atual da sociedade pós-moderna: Em que mundo nós queremos
viver?
Comentário: Muitos projetos não possuem esse formato de
introdução. Esse tópico não faz parte de muitas metodologias de pesquisa, sendo
substituído pela definição do tema,
do problema e da hipótese. Em um livro-reportagem, porém,
esse espaço torna-se mais aceitável. É como um capítulo de apresentação do
livro, uma oportunidade em que o(s) autor(es) apresentam o porquê da escolha do
tema. Explicitam o interesse e a importância desta escolha na área de
conhecimento em que se insere. Pode ser comparado com a justificativa, na metodologia de pesquisa, mas é ainda mais
informal.
Objetivos [trecho do projeto]
Específicos: Analisar
metodologicamente o mito criado sobre “povos da floresta” Amazônica,
especificamente do Estado do Acre. A apropriação política, econômica e social
desse mito, partindo de histórias individuais de personagens da região e
contextualizando-as em relação aos públicos de influência nacionais e
internacionais.
Gerais:
Evidenciar os desafios e conquistas da população amazônica e fomentar um debate
qualificado sobre os resultados e projetos da região norte, despertando a
responsabilidade da população brasileira no tratamento de suas riquezas.
Comentário: Aqui está a indicação do que se pretende (finalidade)
como resultado do trabalho. Deve ser expresso de maneira clara, sucinta e
direta. Alguns verbos recomendados para a formulação de objetivos costumam ser:
medir, descrever, comparar, examinar,
analisar, descobrir (para características, efeitos e processos), construir, obter e identificar (para
critérios, padrões e causas). Os objetivos também sofreram modificações após a
apresentação do projeto e ficaram um pouco mais delimitados.
Evidentemente coloquei apenas alguns tópicos do nosso
projeto de pesquisa. A intenção é dar uma idéia de como o texto é estruturado e
evidenciar as dificuldades que encontramos para delimitar o assunto e os
objetivos. Para quem está fazendo um trabalho jornalístico, as regras
metodológicas de pesquisa acabam sendo muito rígidas.
Definir os objetivos do trabalho
antes de iniciar a apuração pode parecer estranho inicialmente. Aprendemos
durante a faculdade a não realizar uma reportagem com a visão pré-concebida dos
fatos, porém o projeto não deve ser visto dessa forma. Ele é um exercício
importante para o autor começar a se aprofundar no tema de interesse e realizar
as primeiras reflexões.
Nosso projeto evidencia a amplitude
do tema e dos objetivos. Sem colocar essas informações no papel a análise
crítica não seria possível. O importante é que isso não deve ser motivo de
desespero - “Oh! O meu projeto está todo
errado, meu trabalho vai ser um lixo!”. Reaja e trabalhe em cima dele.
Contratempos sempre acontecem. Ao invés de evitá-los, fique sempre preparado
para aceitar e se adaptar.
quinta-feira, 3 de maio de 2012
O tema é a pauta. Não necessariamente na mesma ordem
O primeiro passo para a realização
de um livro-reportagem costuma ser a escolha de um tema. Uso “tema” no sentido mais amplo que a
palavra pode ter. Para facilitar o entendimento do conceito por um jornalista,
o melhor exemplo é a pauta.
Uma das razões de existir da pauta é
estabelecer um roteiro de abordagem de um assunto e planejar o trabalho que o
repórter terá para desenvolvê-lo. Na faculdade aprendemos a fazer isso logo no
primeiro ano. Não é difícil entender o porquê. A pauta é a base, seja de uma
simples nota ou de uma longa reportagem especial.
Escolher sobre o quê falar é
simples. Somos bombardeados por informações todos os dias. A maior parte dessas
informações são incompletas e costumam despertar a nossa curiosidade: “O que aconteceu depois? Mas isso é assim por
que motivo?”. Algumas vezes sabemos sobre determinado assunto de forma aprofundada,
mas não encontramos informações nem canais que divulguem extensivamente o
assunto. É exatamente aí que estão as oportunidades!
Para esclarecer o processo de
escolha do tema, vou usar o nosso caso como referência:
Entre 2010 e 2011 o Miguel passou
quase um ano no Acre e voltou absolutamente fascinado com a experiência. Ainda
estou insistindo para ele contar isso pessoalmente, então não vou entrar em
detalhes agora. Logo nas primeiras reuniões do projeto, ele falou, “Eu preciso contar a história de luta desse
povo, a singularidade desse lugar que tanta gente desconhece”. Temos aí um
primeiro assunto: Acre. Dá para perceber que ainda não é o suficiente.
A palavra Acre não é notícia, nem
pauta. Representa apenas um estado brasileiro no extremo oeste do país. Mas é
claro que ele não foi para o Acre e ficou parado. Foram dezenas de situações com
potencial de contextualização e questões interessantes a serem investigadas. O
desenvolvimento das cidades amazônicas, a dinâmica econômica das reservas
extrativistas, os personagens, o conhecimento prático da floresta, seus
mistérios e sua história. No nosso caso a idéia da pauta surgiu ao contrário,
após uma visita sem pretensões nem objetivo definido.
Para muitos a pauta acaba sendo algo
inicialmente mais simples. No livro-reportagem Chico
Mendes: crime e castigo, Zuenir Ventura foi para o Acre cobrir as
investigações após o assassinato de Chico Mendes para o Jornal do Brasil. As
reportagens eram tão completas e exigiam tanto aprofundamento que
transformá-las em livro era inevitável. O que desejo ressaltar é que tudo
começou a partir de um acontecimento pontual.
Essa é chave da questão. É muito
mais lógico começar por um acontecimento pontual, aprofundá-lo e
contextualizá-lo do que fazer o inverso. No nosso caso, fizemos o inverso e
isso gerou muitas dificuldades para delimitar o assunto. Grande parte do nosso
esforço inicial foi editar o que vamos falar. No próximo post vou compartilhar trechos do nosso pré-projeto para ilustrar de
forma prática esse processo de delimitação do tema.
terça-feira, 24 de abril de 2012
Explique melhor
Após
a apresentação formal, considero que alguns esclarecimentos adicionais são necessários para alinhar as expectativas dos possíveis leitores.
O
primeiro ponto é que as postagens terão tempos verbais variados. A mensagem
anterior foi redigida como uma carta de intenções conjunta entre os
participantes do projeto, mas a maior parte das postagens será autoral. Pedi
para o Miguel criar um Gmail, o que, surpresa minha, o rapaz ainda não tinha,
portanto em breve ele estará por aqui compartilhando suas idéias conosco.
O
segundo ponto é informar o que o visitante irá encontrar nesse espaço. Acho
importante deixar esse ponto claro porque a Internet é, em grande parte, um
espaço caótico de informações irrelevantes e desconexas. A última coisa que eu
quero é fazer alguém perder a atualização importante do amigo no Facebook sobre
a menina que raspou
o cabelo ao vivo no programa Pânico.
Aqui
será publicado o processo utilizado pelo grupo para a construção do
livro-reportagem: estrutura do projeto, temas abordados nas reuniões,
entrevistas brutas e editadas. Vejo futuramente esse espaço como um guia
detalhado do que fazer e o que não fazer em um livro-reportagem.
Para
alguns o assunto será chato, principalmente no início, em que o material está
tomando forma e devo compartilhar documentos de projeto e anotações de
pesquisa. Não posso deixar de colocar esse material, pois ele é parte essencial
do processo. Nos próximos meses, entre junho e setembro, imagino que as coisas
fiquem bem mais interessantes. Vamos visitar o Acre e o blogue ficará mais
ativo do que nunca. Entrevistas serão publicadas, além de fotos e vídeos das
nossas andanças pela Amazônia.
Por
último, o espaço de comentários está aberto e não-moderado. Por mais que o
projeto não dependa disso, ele ficará muito mais rico com a participação de
estranhos, seja criticando, seja elogiando. A gente aguenta o tranco.
segunda-feira, 16 de abril de 2012
O que é?
Essa mensagem marca o nascimento do blogue Acreação. O parto foi simples e rápido, graças ao “incrível” trabalho do suporte automático do Blogger. Ele nasceu feio, como todo recém-nascido com cara de joelho. Surpreendentemente não chorou e aos poucos está se acostumando com a luz. Temos esperança de que ficará bonito.
Vamos quebrar a comparação do nascimento do blogue com um parto, para não ficar estranho. Ele foi criado por Miguel Roncada Haddad e Renato Braga Kestener, estudantes de jornalismo da faculdade Cásper Líbero, em São Paulo. Estamos trabalhando no projeto de um livro-reportagem sobre o Acre, aquele Estado situado na região norte do Brasil, que faz divisa com o Amazonas, Rondônia, Bolívia e Peru. Conhece?
O blogue tem o objetivo central de servir como suporte para o projeto. Utilizando o conceito de Eduardo Belo, disponível na obra Livro-Reportagem (Editora Contexto, 2006), um livro-reportagem é “um instrumento aperiódico de difusão de informações de caráter jornalístico. Por suas características, não substitui nenhum meio de comunicação, mas serve como complemento a todos”. Se o livro-reportagem serve como complemento a todos, este blogue será uma das bases de conteúdo para o livro. Aqui poderemos publicar as informações coletadas de uma forma dinâmica e tratar de assuntos diversos, ainda que sempre relacionados com o tema do projeto. Acima de tudo, aqui poderemos experimentar.
Utilizamos a palavra experimentar porque acreditamos que o blogue ainda é uma ferramenta nova para o jornalismo: possibilita uma ampla liberdade de estilo, é barato, público e possui alcance global. Aliar esses dois instrumentos – blogue e livro-reportagem – para nós faz todo sentido. Como mote do nosso projeto, propomos a definição do professor e jornalista Edvaldo Pereira Lima: “Avançar as fronteiras do jornalismo para além dos limites convencionais que ele próprio se impõe”. Admitimos que é um mote prepotente, mas só assim que a brincadeira fica interessante.
Sejamos bem-vindos.
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