segunda-feira, 14 de maio de 2012

A História Sóciopolítica Universal do Acre (elaboração de um projeto)

Após decidir o tema, o passo seguinte é elaborar o projeto de pesquisa e o seu plano. Essa etapa é importante, independente da situação: por obrigações acadêmicas, comerciais ou pela necessidade de organizar as idéias e estabelecer os parâmetros do trabalho.

Mas o que é um projeto? Uma das definições mais famosas é a do Project Management Institute (PMI):
           
Projeto é um empenho assumido, temporário, para obter-se um resultado único [...]. Temporário significa que esse resultado tem um início e fim definidos. Único significa que o resultado é diferente, sob alguns aspectos, de outros similares.

O roteiro de elaboração de um projeto varia bastante de instituição para instituição, ou de acordo com os objetivos do autor. É importante ter em mente que ele é um guia, não um documento hermético ou mapa do tesouro. Deve ser compreensivo e direto. Isso exige a realização de uma pesquisa prévia sobre o tema, além da organização dos conceitos e da questão que será abordada. Existem inúmeros livros que detalham passo-a-passo o processo de elaboração de um projeto. Utilizamos o Metodologia: processo de produção, registro e relato do conhecimento, de Ofélia M. G. Charoux. DVS Editora, 2006.

Como prometido no último post, seguem partes do nosso projeto de pesquisa com alguns comentários:

Título  [retirado do projeto]

A HISTÓRIA SÓCIOPOLÍTICA DO ACRE E DE SEUS HABITANTES BASEADA NO MITO DA FIGURA DE CHICO MENDES: UMA ABORDAGEM MICROHISTÓRICA REGIONAL E GLOBALIZADA, PERSPECTIVAS DE UM FUTURO SUSTENTÁVEL.

Comentário: O título não precisa ser, necessariamente, idêntico à formulação do tema, mas sugeri-lo. Ele aponta sobre o que trata o trabalho. Deve ser breve e dar a entender qual tema será abordado. Percebe-se que o nosso título ficou amplo e com tema difuso. É muito difícil contar a história sócio-política do Acre e de seus habitantes em um livro-reportagem. A primeira consideração do revisor foi modificá-lo e delimitar o tema proposto.

Introdução [trecho retirado do projeto]

No cenário global turbulento da segunda década do terceiro milênio, a população mundial assiste atônita aos desafios políticos e econômicos desprendidos pelos países desenvolvidos para superar suas dívidas astronômicas.

Paradigmas econômicos até pouco tempo considerados inabaláveis entraram na pauta das instituições de crédito, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. A situação aprofunda a falta de confiança dos investidores nos países desenvolvidos e deposita as esperanças nos “países emergentes”, entre eles o Brasil. [...]

O Estado do Acre é um pedaço desconhecido do país para a maioria dos brasileiros, principalmente para aqueles que vivem nas regiões sul e sudeste, as mais ricas e influentes. Sua história foi constantemente influenciada por interesses econômicos nacionais e internacionais, antigamente os conhecidos “ciclos da borracha” e atualmente a abertura de um canal rodoviário para o Oceano Pacífico. Ocupações desordenadas, intercaladas por momentos de ostracismo, deixaram profundas cicatrizes em sua população, especialmente na sua figura mais conhecida, o seringueiro.

O seringueiro é o ícone do Acre e sua figura representa uma parte importante da dinâmica do Estado. Sem dúvida, o seringueiro mais famoso foi Chico Mendes, cujos ideais de luta contra a exploração predatória e desigualdade social continuam atuais, quase vinte e cinco anos após a sua morte. O discurso político e ambiental relacionado ao modo de vida do seringueiro deu visibilidade mundial para uma região que o próprio país insiste em não enxergar. Os “povos da floresta”, aqueles que dependem da preservação da floresta amazônica para extrair o seu sustento, foram transformados em um mito cuja apropriação política serviu para atender aos mais diversos interesses, muitas vezes afastados daqueles originalmente levantados.

A tarefa de esmiuçar o mito dos “povos da floresta” e relacionar os interesses políticos e econômicos vigentes no Acre e na Amazônia a partir de uma visão globalizada nunca foi mais atual. A história de luta de sua população tradicional, os atuais projetos do Estado e de suas pequenas experiências cotidianas são alicerces que servem de ponto de partida para uma profunda análise filosófica, política e econômica, que deve enriquecer a pauta mais importante e atual da sociedade pós-moderna: Em que mundo nós queremos viver? 

Comentário: Muitos projetos não possuem esse formato de introdução. Esse tópico não faz parte de muitas metodologias de pesquisa, sendo substituído pela definição do tema, do problema e da hipótese. Em um livro-reportagem, porém, esse espaço torna-se mais aceitável. É como um capítulo de apresentação do livro, uma oportunidade em que o(s) autor(es) apresentam o porquê da escolha do tema. Explicitam o interesse e a importância desta escolha na área de conhecimento em que se insere. Pode ser comparado com a justificativa, na metodologia de pesquisa, mas é ainda mais informal.

Objetivos [trecho do projeto]

Específicos: Analisar metodologicamente o mito criado sobre “povos da floresta” Amazônica, especificamente do Estado do Acre. A apropriação política, econômica e social desse mito, partindo de histórias individuais de personagens da região e contextualizando-as em relação aos públicos de influência nacionais e internacionais. 

Gerais: Evidenciar os desafios e conquistas da população amazônica e fomentar um debate qualificado sobre os resultados e projetos da região norte, despertando a responsabilidade da população brasileira no tratamento de suas riquezas.

Comentário: Aqui está a indicação do que se pretende (finalidade) como resultado do trabalho. Deve ser expresso de maneira clara, sucinta e direta. Alguns verbos recomendados para a formulação de objetivos costumam ser: medir, descrever, comparar, examinar, analisar, descobrir (para características, efeitos e processos), construir, obter e identificar (para critérios, padrões e causas). Os objetivos também sofreram modificações após a apresentação do projeto e ficaram um pouco mais delimitados.

Evidentemente coloquei apenas alguns tópicos do nosso projeto de pesquisa. A intenção é dar uma idéia de como o texto é estruturado e evidenciar as dificuldades que encontramos para delimitar o assunto e os objetivos. Para quem está fazendo um trabalho jornalístico, as regras metodológicas de pesquisa acabam sendo muito rígidas.
           
Definir os objetivos do trabalho antes de iniciar a apuração pode parecer estranho inicialmente. Aprendemos durante a faculdade a não realizar uma reportagem com a visão pré-concebida dos fatos, porém o projeto não deve ser visto dessa forma. Ele é um exercício importante para o autor começar a se aprofundar no tema de interesse e realizar as primeiras reflexões.

Nosso projeto evidencia a amplitude do tema e dos objetivos. Sem colocar essas informações no papel a análise crítica não seria possível. O importante é que isso não deve ser motivo de desespero - “Oh! O meu projeto está todo errado, meu trabalho vai ser um lixo!”. Reaja e trabalhe em cima dele. Contratempos sempre acontecem. Ao invés de evitá-los, fique sempre preparado para aceitar e se adaptar.

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