quinta-feira, 3 de maio de 2012

O tema é a pauta. Não necessariamente na mesma ordem


O primeiro passo para a realização de um livro-reportagem costuma ser a escolha de um tema. Uso “tema” no sentido mais amplo que a palavra pode ter. Para facilitar o entendimento do conceito por um jornalista, o melhor exemplo é a pauta.

Uma das razões de existir da pauta é estabelecer um roteiro de abordagem de um assunto e planejar o trabalho que o repórter terá para desenvolvê-lo. Na faculdade aprendemos a fazer isso logo no primeiro ano. Não é difícil entender o porquê. A pauta é a base, seja de uma simples nota ou de uma longa reportagem especial.
            
Escolher sobre o quê falar é simples. Somos bombardeados por informações todos os dias. A maior parte dessas informações são incompletas e costumam despertar a nossa curiosidade: “O que aconteceu depois? Mas isso é assim por que motivo?”. Algumas vezes sabemos sobre determinado assunto de forma aprofundada, mas não encontramos informações nem canais que divulguem extensivamente o assunto. É exatamente aí que estão as oportunidades!

Para esclarecer o processo de escolha do tema, vou usar o nosso caso como referência:

Entre 2010 e 2011 o Miguel passou quase um ano no Acre e voltou absolutamente fascinado com a experiência. Ainda estou insistindo para ele contar isso pessoalmente, então não vou entrar em detalhes agora. Logo nas primeiras reuniões do projeto, ele falou, “Eu preciso contar a história de luta desse povo, a singularidade desse lugar que tanta gente desconhece”. Temos aí um primeiro assunto: Acre. Dá para perceber que ainda não é o suficiente.
            
A palavra Acre não é notícia, nem pauta. Representa apenas um estado brasileiro no extremo oeste do país. Mas é claro que ele não foi para o Acre e ficou parado. Foram dezenas de situações com potencial de contextualização e questões interessantes a serem investigadas. O desenvolvimento das cidades amazônicas, a dinâmica econômica das reservas extrativistas, os personagens, o conhecimento prático da floresta, seus mistérios e sua história. No nosso caso a idéia da pauta surgiu ao contrário, após uma visita sem pretensões nem objetivo definido.
            
Para muitos a pauta acaba sendo algo inicialmente mais simples. No livro-reportagem Chico Mendes: crime e castigo, Zuenir Ventura foi para o Acre cobrir as investigações após o assassinato de Chico Mendes para o Jornal do Brasil. As reportagens eram tão completas e exigiam tanto aprofundamento que transformá-las em livro era inevitável. O que desejo ressaltar é que tudo começou a partir de um acontecimento pontual.
           
Essa é chave da questão. É muito mais lógico começar por um acontecimento pontual, aprofundá-lo e contextualizá-lo do que fazer o inverso. No nosso caso, fizemos o inverso e isso gerou muitas dificuldades para delimitar o assunto. Grande parte do nosso esforço inicial foi editar o que vamos falar. No próximo post vou compartilhar trechos do nosso pré-projeto para ilustrar de forma prática esse processo de delimitação do tema.

Nenhum comentário:

Postar um comentário