O primeiro passo para a realização
de um livro-reportagem costuma ser a escolha de um tema. Uso “tema” no sentido mais amplo que a
palavra pode ter. Para facilitar o entendimento do conceito por um jornalista,
o melhor exemplo é a pauta.
Uma das razões de existir da pauta é
estabelecer um roteiro de abordagem de um assunto e planejar o trabalho que o
repórter terá para desenvolvê-lo. Na faculdade aprendemos a fazer isso logo no
primeiro ano. Não é difícil entender o porquê. A pauta é a base, seja de uma
simples nota ou de uma longa reportagem especial.
Escolher sobre o quê falar é
simples. Somos bombardeados por informações todos os dias. A maior parte dessas
informações são incompletas e costumam despertar a nossa curiosidade: “O que aconteceu depois? Mas isso é assim por
que motivo?”. Algumas vezes sabemos sobre determinado assunto de forma aprofundada,
mas não encontramos informações nem canais que divulguem extensivamente o
assunto. É exatamente aí que estão as oportunidades!
Para esclarecer o processo de
escolha do tema, vou usar o nosso caso como referência:
Entre 2010 e 2011 o Miguel passou
quase um ano no Acre e voltou absolutamente fascinado com a experiência. Ainda
estou insistindo para ele contar isso pessoalmente, então não vou entrar em
detalhes agora. Logo nas primeiras reuniões do projeto, ele falou, “Eu preciso contar a história de luta desse
povo, a singularidade desse lugar que tanta gente desconhece”. Temos aí um
primeiro assunto: Acre. Dá para perceber que ainda não é o suficiente.
A palavra Acre não é notícia, nem
pauta. Representa apenas um estado brasileiro no extremo oeste do país. Mas é
claro que ele não foi para o Acre e ficou parado. Foram dezenas de situações com
potencial de contextualização e questões interessantes a serem investigadas. O
desenvolvimento das cidades amazônicas, a dinâmica econômica das reservas
extrativistas, os personagens, o conhecimento prático da floresta, seus
mistérios e sua história. No nosso caso a idéia da pauta surgiu ao contrário,
após uma visita sem pretensões nem objetivo definido.
Para muitos a pauta acaba sendo algo
inicialmente mais simples. No livro-reportagem Chico
Mendes: crime e castigo, Zuenir Ventura foi para o Acre cobrir as
investigações após o assassinato de Chico Mendes para o Jornal do Brasil. As
reportagens eram tão completas e exigiam tanto aprofundamento que
transformá-las em livro era inevitável. O que desejo ressaltar é que tudo
começou a partir de um acontecimento pontual.
Essa é chave da questão. É muito
mais lógico começar por um acontecimento pontual, aprofundá-lo e
contextualizá-lo do que fazer o inverso. No nosso caso, fizemos o inverso e
isso gerou muitas dificuldades para delimitar o assunto. Grande parte do nosso
esforço inicial foi editar o que vamos falar. No próximo post vou compartilhar trechos do nosso pré-projeto para ilustrar de
forma prática esse processo de delimitação do tema.
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