No post anterior eu expliquei em linhas gerais a bibliografia de um
projeto e a importância da pesquisa em um livro reportagem. O exemplo de Truman
Capote e suas milhares de páginas lidas antes de iniciar A Sangue Frio demonstram a grandeza de certos projetos e
imediatamente despertam a pergunta: Como organizar tanta informação?
Mais uma vez, utilizei instrumentos
e metodologias de pesquisa para solucionar essa questão. Boa parte da pesquisa está
sendo feita a partir da leitura de livros e artigos. Tudo está documentado na
forma de uma ficha-resumo, feita com
a indicação de páginas e transcrição de passagens importantes que possam ser
aproveitadas em entrevistas ou referências de texto. Além disso, incluo
comentários pessoais, separo os personagens que julgo importantes, termos
desconhecidos, organizações e documentos. É como um trabalho de engenharia
reversa, com as informações consideradas importantes separadas por tópicos
específicos e de rápida referência. Para facilitar a visualização, vou
disponibilizar partes de uma das fichas como exemplo, neste caso o famoso
livro-reportagem de Zuenir Ventura:
Fichamento (trechos)
Anotações do livro
VENTURA, Zuenir. Chico Mendes: crime e castigo: quinze
anos depois, o autor volta ao Acre para concluir a mais premiada reportagem
sobre o herói dos povos da floresta. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
241p.
Personagens:
Adair Longuini: juiz de Xapuri na época do julgamento de Chico Mendes.
Adalberto Aragão: dono da fazenda Três Marias, ex-prefeito de Rio Branco pelo PMDB e um
dos fundadores da UDR no Acre.
Alvarino Alves Pereira: irmão de Darly, envolvido também no assassinato de
Chico e procurado pela polícia após o crime.
Élson Martins: importante jornalista acreano, fundador do jornal alternativo Varadouro, que existiu entre 1978 e 1981
e posteriormente diretor da TV Aldeia.
Euclides Fernando Távora: guerrilheiro fugitivo da Coluna Prestes,
alfabetizou Chico Mendes e foi seu grande mentor.
Eunice Feitosa: primeira mulher de Chico Mendes.
Livros e Documentos:
Se me deixam falar: escrito pela educadora brasileira Moema Viezzer, sobre a índia e líder
popular boliviana Domitila Barrios de Chungara.
Dez Dias que Abalaram o Mundo: relato de John Reed sobre os primeiros dias da
Revolução Russa de 1917.
Organizações citadas:
BIRD:
Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
BID: Banco
Interamericano de Desenvolvimento
Operação Chico Mendes: em busca dos responsáveis pela morte do
seringueiro, bem como o julgamento e todas as investigações necessárias.
Jornal Rio Branco: realizou a primeira reportagem após a morte do seringueiro, rodeado de
suspeitas sobre a velocidade em que o repórter se movimentou até o local do
crime (editor Júlio César Fialho, repórter Adonias Mato e fotógrafo Luís dos
Santos).
Projeto Seringueiro: o projeto de peso da região, que envolvia cooperativas e escolas
dentro da floresta para alfabetização dos seringueiros e posteriormente seus
filhos.
Resumo:
Parte I: O Crime
Capítulo 1
O tiro que foi ouvido no mundo todo
O primeiro capítulo descreve com detalhes o
assassinato de Chico Mendes, ocorrido no dia 22 de dezembro de 1988, baleado na porta de casa quando ia tomar
banho. Levanta as questões de como os seus seguranças estavam armados com
pistolas fracas, como os policiais na proximidade não realizaram busca alguma e
como Chico Mendes anunciava há tempos que estava marcado para morrer. Todos
relatam que ele sabia que não chegaria até o dia 30 de dezembro.
Capítulo 2
Como se criam pistoleiros (março /
abril, 1989)
Capítulo descreve a estranha história dos repórteres
do Jornal Rio Branco, que chegaram da capital do estado a Xapuri em poucas
horas, dirigindo um Volkswagen Gol branco. A estrada é péssima e exige um tempo
muito maior do que o levado para os jornalistas. Outro ponto de suspeita é que
testemunhas afirmam que o carro estava frio quando chegou.
A viagem do repórter Zuenir Ventura a Xapuri foi
feita em uma picape muito mais robusta e levou mais tempo do que o Gol dos
repórteres, justificando uma suspeita de que muitas pessoas da alta sociedade
sabiam do que ia acontecer.
Outros pontos abordados são a falta de estrutura
crônica da polícia para caçar os suspeitos, a falta de proteção a
testemunhas-chave no processo, como Genésio, o adolescente de 14 anos que vivia
na Fazenda Paraná e como no local eram realizados diversos crimes e
assassinatos, com visitas periódicas de pessoas de Rio Branco.
Capítulo 3
Uma gargalhada sem igual
Início do capítulo com alguns detalhes
do filme sobre Chico Mendes, tema que é recorrentemente abordado no livro e
parece ter sido de grande importância na época.
Passa para a questão do envolvimento
de figuras políticas importantes na morte de Chico Mendes, entre eles João
Branco, advogado de ruralistas e dono do Jornal Rio Branco. O episódio de
agressividade dos membros da UDN contra Fernando Gabeira no aeroporto de Rio
Branco. A UDN tentava enquadrar o assassinato do seringueiro como uma desavença
pessoal com um pistoleiro agressivo da região, removendo qualquer carga
ideológica que poderia haver por trás.
O maior problema na investigação da
morte de Chico Mendes não era a falta de
equipamentos para investigação, era a falta de vontade política. Foi um
assassinato peculiar, pois a vítima deixou muita informação a respeito dela
para a justiça.
Bibliografia destacada:
Mary
Helena Allegretti: O seringueiro: um
estudo de caso num seringal nativo do Acre.
Documentário A Década da Destruição de Adrian Caldwell.
A Selva Trágica: Roberto Farias (documentário)
Pra frente Brasil: Roberto Farias (documentário)
Termos Importantes:
Reservas Extrativistas: áreas pertencentes à União com usufruto dos
seringueiros, que se organizam em cooperativas e associações, não havendo
títulos de propriedade. As Reservas dão sustento aos milhares de famílias que
trabalham nelas e são uma forma de preservação da natureza.
RIMA:
Relatório de Impacto Ambiental
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